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Medicina na Argentina: vale a pena?

Fazer Medicina na Argentina é uma possibilidade real que já atraiu milhares de brasileiros para as universidades públicas e privadas do país, tanto na capital como em cidades do interior, como Rosário, Córdoba e La Plata. Mas será que realmente vale a pena viver essa experiência na terra dos hermanos? Para te ajudar a decidir, vamos te contar o que você pode esperar de fazer Medicina por lá.

Como funciona o curso de Medicina na Argentina?

Para resolver se uma oportunidade é interessante ou não para você é preciso conhecer o máximo possível sobre ela. Aqui vamos tirar suas principais dúvidas sobre as faculdades de Medicina na Argentina.

Qualidade das instituições

Um ponto que é sempre questionado quando você fala que vai fazer Medicina no exterior é sobre a qualidade dos cursos. Isso acontece porque muitas pessoas vão para países como o Paraguai, sem buscar as informações a fundo. Por isso, acabam caindo em golpes.

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Porém, o caso da Argentina é muito diferente. Afinal, a Argentina é a sede da melhor instituição de ensino superior de toda a América Latina, a Universidade de Buenos Aires (UBA). Para se ter uma ideia, o país tem cinco universidades listadas entre as 700 melhores no QS World University Ranking by Subject de Medicina.

FAZER-MEDICINA-na-argentina-ubaFaculdade de Medicina da UBA (Foto: Roberto Fiadone/Wikipedia)

O melhor curso de Medicina do país é o da UBA. Comparando com as instituições brasileiras, apenas a Universidade de São Paulo (USP) oferece uma qualidade superior à Universidade de Buenos Aires neste curso.

No geral, é possível afirmar que os cursos das melhores universidades brasileiras estão no mesmo nível de qualidade das melhores universidades da Argentina. Quem faz Medicina na Universidade Nacional de Rosário terá o mesmo padrão de ensino que na Universidade Federal Fluminense (UFF), segundo a lista da QS.

Melhores faculdades de Medicina da Argentina:

  1. Universidade de Buenos Aires;
  2. Universidade Nacional de La Plata;
  3. Universidade Nacional de Córdoba;
  4. Universidade Austral; 
  5. Universidade Nacional de Rosário.

Entre todas essas, a única universidade particular é a Universidade Austral. Ou seja, se você busca qualidade garantida nos cursos de medicina argentinos é melhor investir nas universidades públicas. Assim como no Brasil, elas são muito melhores do que as privadas na Argentina.

O processo seletivo

Uma das maiores vantagens de estudar medicina na Argentina é que não existe vestibular para ingressar no curso em nenhuma universidade. Em algumas instituições só é preciso realizar provas de ingresso em situações específicas. Por exemplo, na UBA, alunos de 25 anos que ainda não completaram o Ensino Médio podem fazer o vestibular de ingresso.

Porém, o mais comum é que os estudantes façam um curso de admissão para conseguirem uma vaga nas universidades. A duração deste curso varia conforme a instituição, partindo de dois meses e podendo chegar a 1 ano.

Para conseguir a sua vaga em Medicina basta ser aprovado nas provas do curso de admissão. A boa notícia é que, geralmente, você não precisa ser aprovado de primeira. Na Universidade de Buenos Aires, por exemplo, você tem até três anos para concluir esse curso que, lá, se chama Ciclo Básico Comum (CBC).

Para se inscrever nos cursos de admissão das universidades é preciso cumprir alguns critérios como:

  • Fazer o registro nos prazos estabelecidos;
  • Apresentar a sua carteira de identidade;
  • Apresentar seu diploma de conclusão do Ensino Médio Revalidado;
  • Comprovar seu domínio do espanhol.

Tempo e formato do curso

Além da forma de ingresso, o curso de medicina argentino tem algumas outras diferenças quando comparado ao brasileiro. A primeira delas é que você leva 7 anos para completar o curso na Argentina, enquanto no Brasil o tempo básico é de 6 anos.

O motivo para essa distinção está na forma de ingresso. Como na Argentina os alunos fazem um curso preparatório que leva até um ano para ser completado, o tempo de formação fica maior. Em algumas universidades, porém, o curso de medicina pode ser concluído em 6 anos, já que o curso de ingresso dura menos tempo.

Mas as diferenças não param por aí. Na Argentina, o formato das aulas é bastante diferente do que estamos acostumados no Brasil. Por lá, as aulas funcionam mais como um debate. Ou seja, os professores não costumam dar aulas expositivas, explicando toda a matéria. A ideia é que os alunos se preparem antes de irem para as aulas.

Com esse formato de debates, os alunos devem sempre estudar em casa a partir do material oferecido pelo professor. Na sala de aula o espaço será para tirar dúvidas. Por isso, esse estilo de aprendizado requer uma capacidade de organização e compromisso ainda maior dos alunos.

Ainda que o formato das aulas seja um pouco diferente do que estamos acostumados no Brasil, a estrutura curricular dos cursos é a mesma. Com exceção do curso de seleção, o tempo da graduação em Medicina na Argentina é de 6 anos. As matérias cobrem tanto aspectos teóricos quanto práticos dos vários ramos médicos e, ao final, os estudantes devem fazer um internato em hospitais.

O idioma

Um fator que muita gente não se preocupa tanto é a questão da língua. O espanhol, por mais que seja parecido com o português, não é igual ao nosso idioma. E o curso de Medicina por lá, independentemente da universidade de destino, será ministrado na língua local.

Portanto, um dos primeiros pré-requisitos para fazer Medicina na Argentina é ser capaz de se comunicar em espanhol, e isso vale para fala, escrita, audição e leitura. Mas, atenção, não basta apenas achar que você consegue, é preciso comprovar a sua capacidade para as universidades.

Essa comprovação é feita através de testes de proficiência em espanhol. Cada universidade é livre para escolher que exames são aceitos. Porém, o mais comum é o SIELE, que é uma prova similar ao TOEFL, que comprova seu nível de espanhol por um período de cinco anos.

Para estudar Medicina é preciso comprovar um nível intermediário-avançado em espanhol. Na escala do Quadro Europeu Comum (CEFR) isso equivale ao nível B2. Portanto, é essencial se dedicar ao estudo do idioma para conseguir uma vaga na Argentina.

A vantagem é que, por ser mais próximo do português, você provavelmente terá mais facilidade em aprender espanhol do que teria em outra língua. É até possível encontrar bons cursos de espanhol online grátis para estudar sozinho.

Como fazer faculdade de Medicina na Argentina de graça?

O sistema universitário argentino tem várias semelhanças com o brasileiro. Assim como acontece por aqui, a Argentina tem universidades públicas que não cobram nenhum tipo de taxa de seus alunos de graduação.

Além disso, da mesma forma que acontece no Brasil, as universidades estatais são consideradas muito melhores que as particulares. Por isso, se você quer fazer faculdade na Argentina, invista nas universidades públicas, dessa forma não terá que pagar tarifas pelo seu curso.

Porém, se você tem intenção de fazer faculdade em uma instituição privada ainda é possível conseguir descontos nas tarifas pagas. Geralmente, nestas universidades os alunos podem receber auxílios para cobrir parcialmente o valor pago para a universidade anualmente. Os descontos variam entre 30% e 80%.

É preciso levar em conta que, ainda que você não tenha gastos com a universidade em si, ainda tem que pagar para se sustentar na Argentina. Ao contrário do que acontece em outros países, é muito raro entrar bolsas full-ride (que cobrem seu custo de vida) por lá.

Por outro lado, segundo a calculadora de custo de vida Expatistan, morar na Argentina fica cerca de 11% mais barato que no Brasil. Os valores podem variar conforme as regiões que você escolher. Mas, comparando as duas cidades mais caras dos dois países, Buenos Aires é 12% mais econômica do que São Paulo.

Quem se forma na Argentina pode trabalhar no Brasil?

Independente do país ou do curso que você se formar no exterior, você vai precisar revalidar o seu diploma antes de conseguir atuar profissionalmente no Brasil. Isso acontece porque o nosso país não tem acordo de validade de diploma com nenhuma outra nação do mundo.

Ou seja, se você se formar em Medicina na Argentina, em Direito nos Estados Unidos ou em Engenharia no Japão, não vai poder trabalhar no Brasil até que revalide o seu diploma. Porém, no caso do curso de Medicina esse processo é um pouco diferente dos outros cursos.

Para conquistar um diploma de Medicina válido no Brasil é preciso ser aprovado em um exame chamado REVALIDA. A principal diferença é que a prova consiste em duas etapas. A primeira delas tem o objetivo de medir os seus conhecimentos teóricos, enquanto a segunda fase é voltada para a prática.

Para realizar o teste, a pessoa formada no exterior tem que se inscrever no site do exame e enviar uma cópia digitalizada do seu diploma internacional. Depois disso, é preciso pagar uma taxa de inscrição que, atualmente, custa 330 reais.

São abertos vários editais por ano e os candidatos devem ficar atentos aos prazos estabelecidos por eles. Geralmente, entre o início das inscrições e o fim dos exames existe um prazo de quatro meses. É só aí que você indica a universidade que emitirá o seu novo diploma.

Como é fazer Medicina na Argentina na prática?

Agora você já sabe o básico sobre os cursos de Medicina na Argentina. Mas é sempre bom poder ouvir a opinião de quem já viveu uma experiência parecida, né? Pensando nisso, conversamos com a brasileira Maria Luiza Ferreira Soares.

Maria Luiza é de Belo Horizonte e estuda na Universidade de Buenos Aires (UBA). Na época em que ela conversou com o repórter, Rafael Cerqueira, ela tinha 20 anos e estava cursando o primeiro ano do programa, conhecido como Ciclo Básico Comum (CBC), antes do início da pandemia. Confira abaixo a entrevista que fizemos com ela!

UDI: Por que você resolveu fazer Medicina na Argentina?

Maria Luiza: Eu não teria condições financeiras de arcar com os custos elevados de um curso de Medicina em uma universidade particular no Brasil. Além disso, optei por tentar o ENEM somente no meu último ano do Ensino Médio, lá em 2018, mas a concorrência por uma vaga dentro de uma universidade pública era e continua sendo muito grande.

Juntando tudo isso, eu também sempre tive o interesse de estudar fora do Brasil, e quando comecei a buscar alternativas acabei descobrindo a UBA, que é uma universidade com ótimas referências.

UDI: Como foi o processo para se inscrever na universidade?

Maria Luiza: Eu vou explicar um pouco do processo da UBA, mas é importante ressaltar que, para fazer Medicina na Argentina, cada universidade possui um processo diferente.

O primeiro passo é juntar toda a documentação necessária. Na internet é possível encontrar todas as informações referentes a isso e pesquisar para dar entrada no processo de DNI (o equivalente ao nosso RG na Argentina).

Além disso, também é preciso ter um certificado de fluência (B2) em espanhol que seja aceito pela universidade. Por conta disso, antes de começar o curso na UBA, eu fiz um curso de língua espanhola de 2 meses, também em Buenos Aires. O curso de espanhol aconteceu entre os meses de abril e maio de 2019, e no segundo quadrimestre do mesmo ano eu já estava ingressando na universidade.

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O CBC pode ser considerado o processo de seleção da UBA, uma vez que antes de começar qualquer curso na faculdade, é necessário obter aprovação nas matérias do ciclo básico. Mas essa etapa também é considerada o primeiro ano da faculdade e, como consequência, conta como horas de estudos no histórico e não como um processo seletivo

O estudante tem um prazo de três anos para conseguir aprovação em todas as matérias do CBC. E não há uma competição pelas vagas, como acontece no vestibular brasileiro, por exemplo.

Cada carreira possui o seu Ciclo Básico Comum, com matérias distintas. No caso de Medicina, as matérias cursadas são Matemática, Biofísica, Biologia, Química, IPC (Introdução ao Pensamento Científico) e ICSE (História da Argentina). Essas duas últimas são comuns para todos os cursos.

Também é importante falar que existe a modalidade a distância e a modalidade presencial do CBC. Eu faço a modalidade a distância, que é conhecida como UBC XXI.

Roberto Fiadone/WikipediaFoto: Arquivo pessoal

UDI: Quais são as maiores dificuldades de fazer faculdade em outro país?

Maria Luiza: No meu caso acredito que foi aprender a lidar com uma nova cultura, um idioma que eu não falava e as responsabilidades de morar sozinha tudo de uma vez só. Eu fui para a Argentina logo depois de me formar no Ensino Médio, então ainda não entendia muito bem o que seria a experiência de sair da casa dos meus pais e ir morar em outro país. E isso foi uma coisa que fui assimilando aos poucos depois de chegar em Buenos Aires.

UDI:  Acha que está valendo a pena a experiência de fazer Medicina na Argentina?

Maria Luiza: Acho que vale muito a pena! A Argentina possui um estilo de vida que me agrada muito e a faculdade tem um nível acadêmico realmente muito bom.

UDI: Após se formar, você pretende voltar para o Brasil ou continuar na Argentina?

Maria Luiza: Eu ainda não pensei muito a respeito, mas acredito que antes de tentar voltar ao Brasil e fazer o Revalida, irei morar alguns anos na Espanha, já que o certificado Argentina tem validade por lá. 

UDI: Existem muitos outros brasileiros estudando com você? Como é a relação dos estudantes brasileiros com os estudantes argentinos?

Maria Luiza: Existem muitos estudantes brasileiros na Argentina, principalmente em Buenos Aires. Inclusive, nos primeiros anos, é comum que o nosso círculo de amigos seja composto, em sua grande maioria, por brasileiros. Ainda não tive muito contato com estudantes argentinos, mas todos que fiz amizade até o momento foram muito atenciosos comigo. 

UDI: Quais são os maiores desafios de viver na Argentina?

Maria Luiza: O maior desafio é estar sozinha a princípio. Às vezes faz falta ter alguém em quem confiar nas primeiras semanas, mas a adaptação é rápida e logo você já tem amigos para suprir essa carência.

UDI: Você sente algum tipo de preconceito em relação aos estudantes de Medicina brasileiros por parte dos outros estudantes e professores?

Maria Luiza: Penso que existe um preconceito maior dos brasileiros com os brasileiros que cursam Medicina na Argentina do que dos nossos companheiros de turma e professores. Porém, há também um preconceito por parte deles e até mesmo um pensamento de que estamos ali para “tomar” algo que pertence a eles.

UDI: Como é a questão do idioma? Precisa ter um nível avançado no espanhol para conseguir acompanhar as aulas?

Maria Luiza: É necessário ter o certificado de espanhol nível B2  para fazer a inscrição na universidade. Mas é possível acompanhar as aulas sem um nível tão avançado de fluência. Acredito que essa questão começa a pesar mais a partir do primeiro ano após o CBC, quando se começa a ter prova oral em espanhol. No entanto, esse tempo necessário para o ciclo básico também é o tempo suficiente para desenvolver nossas habilidades no idioma.

fazer-medicina-na-argentina-buenos-airesBuenos Aires (Foto: Deensel/Flickr)

UDI: Do seu ponto de vista, você acha que vale a pena sair do Brasil para estudar Medicina na Argentina?

Maria Luiza: Para mim, foi uma experiência muito positiva e às vezes até chego a dizer que foi a melhor decisão que já tomei, mas acredito que isso é uma questão muito particular.

UDI: Quais conselhos você daria para quem ainda está no Brasil e tem vontade de fazer Medicina na Argentina?

Maria Luiza: Não tenha medo! Você vai passar por dificuldades, mas no final irá valer a pena. Fazer Medicina na Argentina é uma experiência incrível, que com certeza vai te ajudar a se descobrir e a mudar sua perspectiva.

Afinal, vale a pena fazer Medicina na Argentina?

Como você viu pelo depoimento da Ana, fazer faculdade na Argentina pode, sim, ser um bom investimento. O país tem algumas das melhores universidades da América Latina, a começar pela própria Universidade de Buenos Aires, que é a única da região a aparecer entre as 100 melhores do mundo na edição mais recente do ranking da QS World University Ranking, um dos principais de sua categoria. 

E, quando se trata especificamente do curso de Medicina, as universidades argentinas têm comprovadamente uma melhor qualidade de ensino que o de outros países que também costumam receber estudantes brasileiros, como a Bolívia e o Paraguai. Resumindo, as vantagens de estudar medicina na Argentina são:

  1. Possibilidade de estudar de graça;
  2. Não ser necessário prestar vestibular;
  3. Ter boas universidades.
  4. Idioma próximo do português.

Quais são os melhores lugares para fazer Medicina no exterior?

Pela história da Maria Luísa dá para perceber que fazer Medicina na Argentina pode valer muita a pena. Não é à toa que o país está listado entre os melhores do mundo para quem quer fazer o curso. Mas que tal avaliar todas as suas possibilidades? Clique aqui e descubra quais são os melhores países para estudar medicina no exterior e aqui para descobrir quais são as melhores faculdades de medicina no planeta!

*Este texto foi escrito por Rafael Cerqueira (2020) e Ana Resende Quadros (2022)

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Ana Resende Quadros
AUTOR

Ana é jornalista, mestra e doutoranda em Comunicação. Sua paixão é levar informação e conhecimento para todos e, assim, contribuir para a ampliação da cidadania.

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