A gente costuma ouvir falar que a educação no Brasil é ruim, mas você já se perguntou como as pessoas sabem disso? Para saber que alguma coisa é ruim, temos que comparar com algo que é melhor. E para isso não basta apenas convicção, é preciso ter ferramentas efetivas de comparação. É aí que entra o Pisa. Nunca ouviu falar? Pois hoje nós vamos te explicar o que é o Pisa e como funciona essa prova internacional.
Qual a função do Pisa?
A sigla Pisa quer dizer Programa Internacional de Avaliação de Alunos, ou Programme for International Student Assessment, no original em inglês. Como já deu para perceber pelo nome, o Pisa é uma prova internacional que mede o nível de conhecimentos dos estudantes.
Essa avaliação é feita a cada três anos com alunos de 15 anos. A escolha da faixa etária foi estabelecida porque é nessa época que termina a educação obrigatória na maioria dos países. As áreas testadas são as principais da educação básica: Matemática, Leitura e Ciências, mas cada edição tem um foco maior em um desses campos.
A principal função do Pisa é ajudar os governos a compreender o que eles podem melhorar para ampliar o conhecimento de seus estudantes nessas disciplinas. Além disso, a prova funciona como uma pesquisa internacional. Ela permite ter um panorama de como é a educação no mundo e de que maneira ela pode ser aprimorada.
Por exemplo, como o Pisa é aplicado por escolas públicas e particulares, é possível comparar os resultados de ambos os tipos de instituições. Também é possível observar diferenças entre estudantes ricos e pobres e entre mulheres e homens e, assim, combater desigualdades de classe social e gênero.
A OCDE é a responsável pelo Pisa (Foto: OCDE/Flickr)
O propósito do Pisa está bastante de acordo com as funções da instituição que promove a prova: a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa instituição reúne 37 países que visam trabalhar juntos para solucionar problemas enfrentados por todas as nações, como é o caso de encontrar uma fórmula para a educação de qualidade.
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Além dos 37 países membros, existem nações que são consideradas parceiras-chave para a Organização. É nesse segmento que o Brasil se encontra. Isso quer dizer que o nosso país não pode participar de acordos de cooperação exclusivos para membros. Por outro lado, o status de parceiro-chave permite que participemos de órgãos técnicos, reuniões de grupos de trabalho e de pesquisas como o Pisa.
Quais países podem participar do Pisa?
Apesar de se propor a avaliar a educação global, a prova do Pisa não é aplicada em todos os países. Na verdade, apenas os países membros da OCDE têm vaga garantida na realização do exame. As outras nações precisam ser convidadas para participar da pesquisa.
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Da última vez que a prova foi realizada, em 2018, 79 países aplicaram o exame. O Brasil sempre esteve entre os convidados da Organização. Desde o ano 2000, quando a prova foi realizada pela primeira vez, os estudantes brasileiros que têm a idade adequada e cursam a partir do 7º ano do Ensino Fundamental podem participar da prova, ou seja, bem antes do último ano do nosso sistema educacional, que é o 3º ano do Ensino Médio.
A prova do Pisa já contou com sete edições. A cada ano que o exame é realizado, aumenta-se o número de países. Entre 2006 e 2018, por exemplo, o número de participantes saltou de 57 para 79, o que representa um acréscimo de pouco mais de 38%.
No total, 600 mil estudantes fizeram a prova na última edição do Pisa. Esse número equivale a 1,8% dos 32 milhões de alunos na faixa dos 15 anos dos países testados. No Brasil, a proporção foi menor. Por aqui, 10.691 estudantes, matriculados em 597 escolas, fizeram o Pisa. Isso quer dizer que foram testados cerca de 0,5% dos 2.036.861 alunos na faixa etária indicada.
Como é feito o Pisa?
A prova do Pisa funciona como a maioria dos testes de conhecimentos escolares, com questões de múltipla escolha. As questões são elaboradas por especialistas de todo o mundo e depois avaliadas por um comitê da OCDE. Elas também passam por pré-testes para evitar que tenham perguntas muito fáceis ou muito difíceis de serem respondidas, ou que dependam muito de uma experiência cultural.
Diferente com o que acontece com o Enem, por exemplo, nem todos os alunos fazem exatamente a mesma prova. Para a OCDE isso não é um problema, já que o que importa é o domínio de uma habilidade e não um conhecimento específico.
Isso não quer dizer que nenhum conhecimento específico seja cobrado. Na verdade, cada edição tem uma ênfase diferente. Em 2015, por exemplo, o destaque foi para Ciências e as questões abordavam temas como “forças e movimentos". Além disso, o Inep afirma em seu relatório que “os resultados dos testes cognitivos estão fortemente associados à trajetória escolar”.
Outro ponto é que nem todas as escolas de um país fazem as provas. Para fazer o exame do Pisa é preciso ter uma estrutura mínima. Por exemplo, entre 2000 e 2012, o teste era feito no formato de papel, mas, desde 2015, passou a ser feito pelo computador. Isso quer dizer que as escolas aplicantes devem ter acesso a esse recurso, além de seguirem a vários critérios estabelecidos pela OCDE.
(foto: Marco Verch/CCNULL)
Como funciona a prova de Ciência?
A prova de Ciências tem o objetivo de averiguar qual é a compreensão dos alunos dos fenômenos e métodos científicos. A OCDE quer saber se os estudantes são capazes de interpretar evidências e tirar conclusões a partir de um olhar da ciência.
Na prova do Pisa 2015, cujo foco era Ciência, encontramos uma questão que pergunta qual, dentre as alternativas, é a razão científica para a clonagem de pessoas ser inaceitável. Outras questões já abordam a inércia e também são apresentados textos jornalísticos que servem como apoio para as questões apresentadas.
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Em uma das perguntas os alunos precisam usar o texto e interpretá-lo para responder o que significa a expressão “pedaço minúsculo” naquele contexto. Entre as opções estavam termos científicos como “célula” (resposta correta), “gene”, “núcleo da célula” e “cromossomo”. Para chegar em uma resposta correta é preciso ter conhecimentos não apenas de ciência, mas também de leitura.
Como funciona a prova de Leitura?
A prova de Leitura consiste, principalmente, em avaliar a habilidade de interpretação de texto dos alunos. Para a OCDE não basta que os alunos extraiam informações e instruções dos textos apresentados, eles precisam também serem capazes de usar esses dados no seu dia a dia. Ou seja, a organização quer saber que esses alunos são pessoas capazes de ler e compreender rótulos de embalagens, contratos e notícias, por exemplo.
A própria apresentação da prova traz cenários do cotidiano. Em uma das partes da prova do Pisa 2018 os estudantes tinham que responder uma série de questões sobre leite de vaca. A situação foi introduzida com um grupo de adolescentes que leu um cartaz e foi procurar sobre o assunto na internet.
A partir daí, os alunos têm que ler textos em diferentes formatos e devem responder perguntas sobre: representação do sentido literal, conteúdo e forma dos textos, capacidade de fazer inferências, além de detecção e gerenciamento de conflitos. Em uma determinada pergunta, por exemplo, os estudantes devem diferir o que é fato e o que é opinião dos autores dos textos apresentados.
(foto: Agência Brasil/Wikimedia Commons)
Como funciona a prova de Matemática?
A prova de Matemática do Pisa não quer saber apenas se os estudantes são capazes de fazer contas e reproduzir fórmulas. A principal questão é a capacidade de formulação, uso e interpretação desse campo de conhecimento. Ou seja, mais uma vez a OCDE quer saber como esses conhecimentos da escola poderão ser usados na vida prática dos alunos.
Matemática, de acordo com a prova do Pisa, não deve ser entendida como uma coisa a ser decorada e sim como uma maneira de enxergar o mundo. Um exemplo disso é o mundo da informática, que foi tema do exame realizado pela OCDE em 2012. Entre as questões, os alunos precisavam calcular os espaços disponíveis para armazenar arquivos em um pendrive.
Como os países são classificados?
Um dos pontos mais aguardados do exame é a classificação dos países participantes. Apesar de existir uma lista com as notas das nações em cada uma das áreas abordadas, nem sempre a nota geral é a mais importante. É que a OCDE define seis níveis de domínio, em que o mínimo aceitável é 2 e 6 significa competência avançada.
Mesmo assim, a comparação com outros lugares continua importando. Cada intervalo de 35 pontos no exame equivale a um ano de atraso ou avanço com relação a outros países. Ou seja, para que os alunos atinjam o nível dos estudantes daquela outra nação, precisam estudar mais um ano.
Na teoria, não existe uma nota mínima ou máxima que se pode tirar no Pisa, porém, o mais comum é que os alunos tenham notas entre 400 e 600 pontos. Raramente alguns alunos alcançam os 700 pontos e apenas os extremamente avançados conseguem uma pontuação acima de 800 pontos.
A própria OCDE diz que não é possível fazer uma comparação exata dos países, já que a porcentagem de estudantes que realizam a prova é bastante pequena. Além disso, as notas são dadas separadamente e não em conjunto. É claro que é possível comparar as notas individuais das matérias, mas o mais comum é separar os países apenas entre os que têm um bom e um mau desempenho.
Qual a posição do Brasil no ranking da educação?
O Brasil está na faixa dos países com baixo desempenho em todas as disciplinas do Pisa. O ideal é que os países consigam uma média de 500 pontos na prova. Entretanto, o nosso país jamais atingiu essa faixa de pontuação. O valor máximo que o Brasil já conseguiu foi na última edição, em 2018.
Os resultados, que foram divulgados em 2019, apontam o Brasil como estando nas últimas 30 posições do ranking em todos os critérios do Pisa. Estamos em 57º lugar em Leitura, 66º em Ciências e em 70º em Matemática. Ou seja, a matéria em que temos o melhor desempenho é a de Leitura. Nossos alunos conseguiram atingir o nível 2 nesta área. Isso significa que atingimos o nível mínimo esperado.
(foto: Ak Rockefeller/Flickr)
A nota mínima para entrar nessa faixa em Leitura era 407 pontos. O Brasil conseguiu ficar um pouco acima do mínimo, com 413 pontos, mas ainda distante dos 480 necessários para ir para o nível 3. Segundo os dados do Inep, 24,5% dos alunos ficaram na faixa dois, um pouco acima da média mundial, que é de 23,7%. Por outro lado, apenas 0,2% dos estudantes brasileiros conseguiram a proficiência máxima na prova, enquanto a média da OCDE é de 1,3%.
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A situação é ainda pior nas outras áreas do exame. O Brasil não conseguiu atingir nem o nível aceitável em Matemática e Ciências. Na primeira, o nosso país fez uma média de 384 pontos, muito abaixo dos 420 necessários para atingir o nível dois. Já em Ciências, conseguimos 404 pontos, uma distância pequena dos 410 pontos exigidos para entrar na lista dos países com desempenho aceitável.
Em comparação com outras edições do exame, o Brasil teve uma leve evolução em todos os critérios. A elevação das notas foi maior em comparação com as primeiras edições do exame. Por outro lado, na última década, a OCDE indica que o país passa por uma estagnação na educação, enquanto as demais nações têm melhorado.
Evolução do Brasil no Pisa ao longo dos anos |
|||
Ano |
Leitura |
Matemática |
Ciências |
2000 |
396 |
- |
- |
2003 |
403 |
356 |
- |
2006 |
393 |
370 |
390 |
2009 |
412 |
386 |
405 |
2012 |
407 |
389 |
402 |
2015 |
407 |
377 |
401 |
2018 |
413 |
384 |
404 |
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) faz uma comparação entre as médias do Brasil e dos países que podem ser comparados ao nosso, seja pelo tamanho, pelo contexto cultural e até países com histórico de bom desempenho no exame. Veja como o Brasil se compara aos outros países em 2018.
Como o Brasil se saiu no Pisa em comparação com outros países |
|||
País |
Leitura |
Matemática |
Ciência |
Canadá |
520 |
512 |
518 |
Finlândia |
520 |
507 |
522 |
Coreia do Sul |
514 |
526 |
519 |
Estados Unidos |
505 |
478 |
502 |
Portugal |
492 |
492 |
492 |
Chile |
452 |
417 |
444 |
Uruguai |
427 |
418 |
426 |
Costa Rica |
426 |
402 |
416 |
México |
420 |
409 |
419 |
Brasil |
413 |
384 |
404 |
Colômbia |
412 |
391 |
413 |
Argentina |
402 |
379 |
404 |
Peru |
401 |
400 |
404 |
Média da OCDE |
487 |
489 |
489 |
Como deu para observar, o Brasil tem um desempenho bastante ruim quando comparado aos países da América do Norte (Canadá, Estados Unidos e México) e também fica atrás de vários da América do Sul, como o Uruguai. O país com desempenho mais próximo ao do Brasil é a Argentina, que se sai pior em Leitura e Matemática e empata em Ciências.
Quais são os países com a melhor educação do mundo?
Os países asiáticos foram os que se deram melhor na edição do Pisa de 2018. A China foi o país que mais se destacou, já que teve o melhor desempenho em Leitura, a principal área avaliada, e também nas demais áreas de competência. Singapura ficou em segundo lugar em todas as categorias. As dez nações com maior destaque no mundo foram:
Posição |
Leitura |
Ciência |
Matemática |
1 |
Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (China - Ásia) - 555 pontos |
Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (China - Ásia) - 590 pontos |
Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (China - Ásia) - 591 pontos |
2 |
Singapura (Ásia) - 549 pontos |
Singapura (Ásia) - 551 pontos |
Singapura (Ásia) - 569 pontos |
3 |
Macau (Ásia) - 525 pontos |
Macau (Ásia) - 544 pontos |
Macau (Ásia) - 558 pontos |
4 |
Hong Kong (Ásia) - 524 pontos |
Estônia (Europa) - 530 pontos |
Hong Kong (Ásia) - 551 pontos |
5 |
Estônia (Europa) - 523 pontos |
Japão (Ásia) - 529 pontos |
Taipei chinesa (Ásia) - 531 pontos |
6 |
Canadá (América) - 520 pontos |
Finlândia (Europa) - 522 pontos |
Japão (Ásia) - 527 pontos |
7 |
Finlândia (Europa) - 520 pontos |
Coreia do Sul (Ásia) - 519 pontos |
Coreia do Sul (Ásia) - 526 pontos |
8 |
Irlanda (Europa) - 518 pontos |
Canadá (América) - 518 pontos |
Estônia (Europa) - 523 pontos |
9 |
Coreia do Sul (Ásia) - 514 pontos |
Hong Kong (Ásia) - 517 pontos |
Holanda (Europa) - 519 pontos |
10 |
Polônia (Europa) - 512 pontos |
Taipei chinesa (Ásia) - 516 pontos |
Polônia (Europa) - 516 pontos |
Fonte: OCDE |
As nações que se repetem entre as dez primeiras em todas as três áreas são China, Singapura, Macau, Hong Kong, Estônia e Coreia do Sul. Nenhum país do continente americano conseguiu ficar entre os melhores nos três critérios, mas o Canadá se destacou em Leitura e Ciência. A África e a Oceania não foram representados por nenhum país entre os 10 melhores.
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Porém, essa tabela mudou muito quando comparada à primeira edição do Pisa. Em 2000, os países da Oceania tiveram um excelente desempenho e estavam entre os primeiros lugares. Naquele ano apenas a competência de Leitura foi avaliada. Ao observar uma queda em seu desempenho, países como a Nova Zelândia estão trabalhando para reduzir a desigualdade educacional.
Os países asiáticos ficaram com as melhores posições no Pisa (foto: Michael Salinger/Pixabay)
De toda forma, a partir do ano de 2006 um país asiático ocupa sempre a primeira posição do ranking. A China ocupou este lugar pela primeira vez em 2018, mas nem todas as regiões do país foram avaliadas. Ainda assim, territórios autônomos chineses como Hong-Kong sempre apareceram na lista dos melhores.
Já os Estados Unidos, apesar de nunca figurarem entre as primeiras posições, tem uma educação de qualidade elevada. Os EUA estão na faixa três de educação da OCDE em Leitura e Ciências e na faixa dois em Matemática. Um fato que deve ser levado em consideração é que, por lá, a educação obrigatória vai até os 17 anos e não os 15, como é a média da OCDE.
Quando será o próximo Pisa?
A próxima edição do Pisa estava prevista para 2021, porém, devido à pandemia de Covid-19, a prova foi adiada. Segundo a OCDE o novo exame será realizado em 2022. Desta vez a ênfase será em Matemática, já que nos anos anteriores foi em Leitura (2018) e Ciência (2015).
A prova deve seguir as novas diretrizes para a disciplina lançada pela Universidade de Oxford em 2019. O novo foco é identificar a capacidade dos alunos de criar, interpretar e aplicar problemas da matemática na vida real.
Além disso, será aplicado um teste de Letramento Financeiro e uma prova inédita de Pensamento Criativo. Com isso, a OCDE espera poder ver se os estudantes já têm as habilidades necessárias no século XXI. Outra novidade é que a prova deve ser aplicada em mais de 80 países em 2022.
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