Você pode já ter percebido que os britânicos “perdem o sotaque” quando estão cantando. Não notou? Pode conferir em alguma canção da Adele ou Sam Smith (ambos são naturais de Londres): mesmo ao vivo, o sotaque britânico fica mais “apagado” quando eles estão cantando!
E isso não é uma exclusividade do sotaque britânico, viu?! Até mesmo aqui no Brasil, cantores do interior paulista que tem um “erre” mais carregado ou intérpretes baianos, por exemplo, costumam ficar com o sotaque “neutro” durante a cantoria. Se estiver procurando alguém para ilustrar, a cantora Pitty é um ótimo caso de observação!
Por isso, preparamos esse artigo para te explicar por que esse fenômeno ocorre, principalmente com os artistas do Reino Unido. Vem conferir!
Músicos britânicos “perdem o sotaque”?
O sotaque britânico é muito marcante, inclusive, é uma característica expressiva quando falamos dos nativos ou de moradores de longa data do Reino Unido. Bastante forte quando artistas ou personalidades se comunicam ou até mesmo dão entrevistas, as características da fala britânica “somem” quando eles estão cantando.
E isso ocorre justamente porque a fala e o canto são duas modalidades de expressão muito diferentes. Os sotaques são marcados pela entonação, ritmo e pela forma como as sílabas são pronunciadas. Já pensou que água (water) no Reino Unido soa muito mais como “WAH-ta”? Impossível de passar despercebido aos ouvidos mais atentos!
Já quando falamos de canto, o ritmo da canção, assim como a melodia afetam a pronúncia. Tom, silabação e até mesmo a ênfase em determinada sílaba são diferentes.
Outro fator determinante para a separação entre fala e canto é que a parte do cérebro responsável por cada uma dessas ações é diferente. Pode parecer estranho, mas a parte da nossa mente chamada de medial é ativada quando falamos em uma conversação normal.
Já para soltar a voz em músicas ou sons mais ritmados, o cérebro “liga” seu sistema lateral. Por isso, mesmo pessoas que têm uma dificuldade na fala podem conseguir cantar sem maiores problemas, dependendo da situação.
A prolongação das sílabas — super comum na hora de cantar — também é bastante significante para alterar os sotaques! Afinal, poderia soar musicalmente estranho que o /r/ no final de uma sílaba não fosse pronunciado na hora de cantar, como acontece quando os britânicos estão conversando.
Para ilustrar, pense em como um nativo do Reino Unido fala em “party”: a palavra tem a vogal anterior ao /r/ alongada e o /r/ fica de fora da fala.
via Giphy
Gênero musical também influencia o sotaque britânico
Além dessas questões práticas de disparidade entre o cantar e falar, é importante ter em mente a indústria musical quando falamos do sotaque de artistas. É que o sotaque “neutro” ou mais americanizado podem ser uma forma de identificação com alguns certos gêneros musicais.
No caso do R&B ou pop mainstream é mais comum que o artista tenha o sotaque que mais gere interesse da população que acompanha esse estilo musical. No entanto, algumas bandas mantêm um forte sotaque regional a fim de manter a sua personalidade.
Como exemplo de artista que “americanizou” o sotaque, temos Amy Winehouse. Quando curtimos um som como ‘Rehab’, não é possível afirmar que a cantora dona de uma das vozes mais marcantes da história era natural de Enfield no Reino Unido.
Por outro lado, a banda Arctic Monkeys — formada em 2002 nos subúrbios da cidade de Sheffield na Inglaterra — mantém a imagem do vocalista Alex Turner como um nativo do Reino Unido. Dentre os acordes de ‘Do I Wanna Know?’ é fácil de notar o sotaque do artista.
Para curtir uma canção com sotaque britânico, além da banda indie, também temos como exemplos: a banda punk londrina Sex Pistols ou diretamente de Manchester: The 1975!
O sotaque britânico fica “americanizado”?
Além da fonética, o ritmo e até a pressão do ar das cordas vocais, podemos considerar que outra razão para a mudança no sotaque é que na língua inglesa para os norte-americanos é bastante neutro e genérico.
Isso também significa que os cantores não mudam para o sotaque americano, é um sotaque “isento” de fortes marcas e que acaba se adaptando aos estilos musicais mais variados.
O linguista David Crystal, em entrevista ao site News Nation, afirmou que “é o ritmo da música que afeta o ritmo do cantor. Ao interpretar, o ritmo costuma ser mais lento. As palavras são prolongadas e pronunciadas com mais força e o sotaque torna-se mais neutro”.
Como um representante britânico, também temos o cantor premiado Ed Sheeran — nascido na região de West Yorkshire. O intérprete do hit ‘Bad Habits’ tem o sotaque mais acentuado em algumas canções, enquanto em outras músicas fica mais “neutro”.
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O sotaque estrangeiro é um problema?
Outra curiosidade sobre os sotaques é que nosso sistema de matriz fonológica consegue admitir o aprendizado de uma segunda língua sem interferência da língua materna com mais facilidade enquanto somos crianças.
É que até os 7 anos a probabilidade de aprender duas línguas sem o sotaque estrangeiro é bem maior. Apesar de a aptidão diminuir um pouco com o passar dos anos, é possível ainda aprender a falar como um nativo mesmo na idade adulta.
Porém, vale destacar que o sotaque estrangeiro não deve ser um problema na comunicação. É que o mais importante é a mensagem e de fato conseguir transmitir e receber o recado ao seu ouvinte, portanto, não devemos nos envergonhar caso a pronúncia não seja 100% igual a de um nativo.
Portanto, não deixe que o medo de falar com sotaque te impeça de embarcar em uma viagem ao exterior! E, caso tenha vontade, teste em casa: quando você canta uma canção em inglês o sotaque “estrangeiro” fica quase imperceptível, assim como rola com as características da fala britânica.
Conheça os locais de origem dos artistas britânicos
Depois dessa tour pelo mundo da música, deu até vontade de conhecer pessoalmente de onde vieram tantos artistas talentosos. Seja com o sotaque mantido ou com a vocalização neutra na hora de cantarolar, o Reino Unido é berço de muitos cantores(as).
Para começar a preparar as malas, nada melhor do que conferir como tirar o visto do Reino Unido. Clica aqui para acompanhar o passo a passo.