Em janeiro, o Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS, na sigla em inglês) emitiu um alerta, avisando que há “um número excepcional de vistos baseados em trabalho disponíveis neste ano fiscal (outubro/2021 a outubro/2022)”. Ainda de acordo com o departamento, os esforços estão voltados para “usar todos eles”.


(Gulbenk/Wikimedia Commons)

A nota emitida pelo USCIS menciona duas categorias de visto, voltadas a profissionais com habilidades extraordinárias (EB 1) ou acima da média (EB 2) em áreas como ciência, arte, educação, negócios e esportes. Como o conceito de “habilidade extraordinária” não é bem definido, o alerta deixa espaço para que trabalhadores de várias áreas se inscrevam. “Se você é elegível, por favor, considere se candidatar”, reforça o aviso.

Quem é aprovado para o visto, recebe um "green card", apelido dado à permissão para morar e trabalhar nos EUA por dez anos. O documento pode, ainda, ser renovado e dá a oportunidade para um pedido posterior de cidadania.

Por que os EUA têm vistos sobrando?

O alto número de vistos disponíveis tem como uma das principais causas a pandemia de covid-19. A cada ano, o governo estadunidense autoriza uma quantidade de aprovações para cada tipo de visto. Caso essa cota não seja alcançada, a “sobra” é levada para o ano fiscal seguinte. 

Com a pandemia e as consequentes restrições dificultaram a emissão dos vistos (com a impossibilidade de realização de entrevistas, por exemplo), houve menos aprovações em 2020 e 2021. Resultado: o limite de vistos para 2022 é aproximadamente o dobro do normal, que variava em torno de 140.000 permissões.

Com isso, estão sendo ofertados cerca de 280 mil green cards para trabalho, segundo um relatório divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano. Porém, isso não é garantia de que essa cota de concessões será atingida.

O país terminou 2019 com 2,5 milhões de solicitações — já no final do ano passado, a fila era de 8,84 milhões. No ano fiscal de 2021, foram concedidos 738 mil green cards, sendo mais da metade (449.425) com base em laços familiares. No mesmo período, houve 178.498 petições de vistos EB. Dessas, 105.565 foram aprovadas. O Brasil foi o 5.º país com mais aprovações, somando 1.650. No período, houve 5.416 pedidos de brasileiros nessa categoria, e muitos ainda estão com análise pendente.

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O andamento dessa fila de solicitações segue regras complexas. Por exemplo, imigrantes de um mesmo país não podem representar mais de 7% do total de vistos concedidos anualmente. O tempo entre abrir o processo de solicitação e receber o resultado, no caso das opções EB 1 e 2, tem sido em torno de um ano.

Além disso, os EUA vêm enfrentando uma crise de falta de mão de obra, principalmente especializada. Isso faz com que empresas do país tenham que dobrar seus esforços para encontrar trabalhadores e preencher as vagas abertas — inclusive procurar interessados no exterior.

O que o governo tem feito para tentar suprir a falta de trabalhadores?

Diversas áreas do governo estadunidense vêm trabalhando para resolver o problema da falta de trabalhadores. No caso dos departamentos que tratam de imigração, por exemplo, os processos de solicitação vêm sendo facilitados, como com a dispensa de entrevista para alguns tipos de visto de trabalho temporário.

Além disso, o USCIS vem encorajando candidatos ao visto EB 3 (voltado tanto para skilled quanto para unskilled workers) a “reclassificar” o pedido, passando para os tipos EB 1 e EB 2, que são os que estão com “sobra”. Com isso, é esperado que as chances de aceitação aumentem.

A aprovação dos vistos EB 1 e EB 2 tende a ser “mais fácil” porque o candidato não precisa ter uma empresa norte-americana como "patrocinadora'' do visto. Em vez disso, é possível fazer o pedido por conta própria, contanto que atenda ao menos três de sete requisitos, por meio de documentos e cartas de recomendação, que mostrem as capacidades acima da média.

Quer trabalhar nos EUA?

Aqui neste guia você encontra um passo a passo completo sobre como conseguir uma vaga por lá, quais são os trâmites legais de visto e uma visão geral sobre os salários e a experiência profissional no país. Nada de dar uma de Sol da novela América, hein?